#009. [Os 3 Mandatos da Liderança] Como Alan Mulally salvou a Ford aplicando o 2º Mandato da Liderança
De quase falida a lucrativa: como a Ford virou o jogo
Sua liderança está construindo um futuro intencional ou apenas reagindo ao presente?
Nos últimos dois artigos, exploramos o 1º Mandato da Liderança: Diagnosticar a Realidade sem Ilusões. Sem enxergar claramente onde a organização está, qualquer passo adiante é um tiro no escuro.
Por outro lado, entender o presente, por si só, não move ninguém.
É preciso algo mais: um destino claro e motivador.
É aqui que entra o 2º Mandato da Liderança: Criar uma Visão de Futuro Atraente, tema do artigo de hoje.
Manter a operação rodando sem uma visão clara não é liderança — é apenas gestão reativa.
O perigo de uma Liderança sem Visão
Líderes que falham em definir um futuro inspirador deixam suas equipes presas a um ciclo interminável de imediatismo e reatividade, sem um propósito maior.
Isso não acontece de uma vez, mas em sinais sutis que, com o tempo, comprometem o desempenho:
💤 Inércia: A organização opera no piloto automático, repetindo processos sem questionar se estão levando a um resultado desejável. O mundo muda, mas a empresa permanece onde está, justificando a estagnação com racionalizações.
⚔️ Desalinhamento: Sem uma visão comum, cada área define suas próprias prioridades. Os esforços se fragmentam, os projetos competem entre si e a energia da equipe se dissipa.
💔 Desconexão emocional: Sem um propósito maior, o trabalho diário vira mera execução. As pessoas perdem o brilho nos olhos, e o engajamento dá lugar à apatia.
É como remar sem destino: as equipes se cansam, desistem ou seguem em direções opostas.
Pior ainda, sem uma visão clara, as decisões se tornam reativas. O líder deixa de construir o futuro e se torna refém do presente — apagando incêndios enquanto o que realmente importa fica para depois.
Quando o líder oferece um norte claro, porém, algo poderoso acontece: as prioridades ficam claras, as equipes se sentem energizadas e os desafios deixam de ser barreiras para se tornarem oportunidades.
Como o líder pode fazer isso?
O diagnóstico não basta: é preciso olhar para o futuro
Imagine sua organização daqui a 12 meses*. Se nada mudar, você estará comemorando conquistas ou lidando com crises previsíveis?
Após diagnosticar a realidade, todo líder precisa fazer duas perguntas cruciais:
Se continuarmos na direção atual, onde estaremos daqui a 12 meses*?
Esse é o futuro que queremos?
*A pergunta pode ser feita para diferentes horizontes temporais, não exclusivamente para 12 meses.
Essas duas perguntas revelam o que chamo de futuro provável — o destino natural caso nada mude. Em algumas situações, ele pode ser promissor. Em outras, preocupante.
Os melhores líderes nunca aceitam o futuro provável como inevitável.
Ao contrário, o líder deve explorar os outros futuros possíveis e, dentre eles, escolher um futuro preferível — aquele que vale a pena perseguir.
Neste sentido, podemos aprender sobre o 2º mandato da liderança observando o fluxo de um rio:
Acelerar o fluxo: Ao observar que o rio desaguará (futuro provável) em uma foz desejável, o papel do líder é agir para acelerar o progresso, removendo obstáculos e potencializando as oportunidades já em curso.
Redirecionar o fluxo: Ao observar que o rio ruma para um penhasco perigoso, não desejável, o líder deve redirecionar o fluxo, criando uma nova trajetória que leve o fluxo d’água a um destino mais atraente (futuro preferível).
Em ambos os casos, a liderança exige intencionalidade. Sem ela, você simplesmente “fica à deriva conforme a corrente”, sem controle real sobre o destino final.
Um caso prático que tirou a Ford da rota da falência
Considere o caso da Ford sob a liderança de Alan Mulally. Ao assumir como CEO em 20061, ele encontrou a empresa em crise, caminhando para um “futuro provável” de falência.
Mulally não apenas diagnosticou a realidade, mas articulou uma visão clara: “One Ford” — integrar operações globais, investir em qualidade e eficiência e focar no cliente. Essa visão não era abstrata: cada decisão estratégica foi guiada por ela.
O resultado? A Ford não só evitou a falência como voltou à lucratividade, sem precisar do resgate governamental que outras montadoras precisaram2.
Como isso se aplica a você que não é CEO?
Você pode estar pensando: “não sou o CEO de uma grande organização como a Ford. Como isso se aplica a mim?”
Costumo dizer que dentro de uma grande visão organizacional, microvisões precisam ser construídas em cada área ou departamento, com a finalidade de desdobrar a visão maior. A visão maior funciona como um guarda-chuva para as visões departamentais, afinal são os líderes diretos que são responsáveis por dar materialidade para a visão organizacional para os colaboradores na ponta.
Portanto, independentemente da posição que você lidera hoje, os 3 mandatos também são relevantes para você.
Mulally exerceu o coração do 2º Mandato: criou uma visão de futuro atraente que fazia não apenas sentido estratégico, mas também despertava esperança, senso de urgência e motivação em todos envolvidos.
A ciência da esperança: o que as pessoas realmente querem de seus líderes
Essa capacidade de oferecer um destino claro e inspirador está diretamente conectada ao atributo mais desejado em um líder: esperança.
Um estudo recém publicado pela Gallup, Global Leadership Report: What Followers Want, perguntou a dezenas de milhares de profissionais:
Qual líder teve a maior influência positiva em sua vida diária?
Quais são três palavras que melhor descrevem o que essa pessoa contribuiu para sua vida?
A palavra mais citada, com 56% das menções, indistintamente ao redor do mundo, foi esperança.
Segundo o estudo:
"A esperança é um poderoso motivador; ela dá aos liderados algo melhor para esperar, permitindo que enfrentem desafios e trabalhem em direção a um futuro mais brilhante. Sem esperança, as pessoas podem se desconectar, perder a confiança e se tornarem menos resilientes."
O verdadeiro poder do 2º mandato de um líder está em oferecer algo raro nos dias de hoje: esperança fundamentada em uma visão de um futuro possível, claro e atraente que desperte nas pessoas o desejo de fazer parte de sua construção.
Você já trabalhou com um líder que inspirou esperança? Como essa liderança mudou sua experiência? Compartilhe nos comentários ou responda esse email.
Você tem uma visão clara do futuro que deseja criar?
Como líder, você está guiando sua equipe para um futuro intencional ou apenas seguindo a correnteza?
Reserve um momento para refletir e definir:
Qual é o futuro provável da sua organização se tudo permanecer como está?
Esse é o destino que você realmente deseja?
Caso não, qual é o futuro preferível que você deseja construir?
Peter Drucker, pai da administração, costumava dizer que “a melhor forma de prever o futuro é criá-lo”. Líderes intencionais compreendem e praticam isso exercendo ao 2º mandato da liderança.
Na próxima semana, exploraremos como conectar o 2º com o 3º mandato da liderança: Gerar movimento direcionado para transformar essa visão em realidade. Inscreva-se para não perder a próxima edição.
Leitura complementar e referências
Alan Mulally Bio | Ford Media Center (https://media.ford.com/content/fordmedia/fna/us/en/people/alan-mulally.html)
Ford Posts Solid US$2.7-bil. Profit in 2009 (https://www.spglobal.com/marketintelligence/en/mi/country-industry-forecasting.html)