#007. [Os 3 Mandatos da Liderança] O 1º Mandato: Diagnosticar a realidade sem ilusões
As barreiras invisíveis que distorcem sua percepção – e o efeito dominó das decisões erradas
O maior erro de um líder?
Achar que está liderando quando está apenas reagindo.
Todos os dias, líderes enfrentam o mesmo cenário:
novas demandas surgem;
prioridades mudam ou entram em conflito;
recursos são sempre limitados.
O problema é que se você passa mais tempo resolvendo crises do que construindo o futuro, você não está liderando — está apenas apagando incêndios. O pior: você pode até se acostumar e passar a gostar do ‘calor’. Reagir dá a falsa sensação de produtividade, enquanto tudo o que importa fica para depois.
Quanto mais tempo você opera no piloto automático, mais distante fica do que realmente importa.
Ficar preso na reatividade não é uma opção para quem quer liderar com impacto. Para construir o futuro em vez de apenas sobreviver ao presente, todo líder intencional precisa dominar os três mandatos fundamentais da liderança:
Mandato #1: Diagnosticar a realidade
Mandato #2: Criar uma visão de futuro atraente
Mandato #3: Gerar movimento direcionado para transformar a visão em realidade
No artigo desta semana, iremos cobrir as barreiras que impedem líderes de praticar Mandato #1. Na próxima semana, falaremos sobre estratégias para colocar o Mandato #1 em prática e nas semanas seguintes cobriremos os demais mandatos.
Mandato #1: Diagnosticar a realidade
Quantas decisões ruins poderiam ter sido evitadas se o líder tivesse enxergado a realidade com mais clareza?
Sem um diagnóstico preciso, os esforços se tornam dispersos, as decisões viram tiros no escuro e os problemas só aparecem quando já se tornaram crises.
O primeiro mandato da liderança é simples, mas frequentemente negligenciado: ver a realidade como ela realmente é. Nem melhor, nem pior.
Os 3 tipos de barreiras que prejudicam um diagnóstico assertivo
Líderes não falham em enxergar a realidade porque querem - eles falham porque estão cercados por barreiras invisíveis que distorcem sua percepção. Essas barreiras podem vir de dentro (viéses cognitivos e emocionais) ou de fora (pressões organizacionais e ruído do ambiente).
1. Viéses Cognitivos: Quando a mente engana o líder
O cérebro humano busca padrões e atalhos para processar a realidade, mas isso nem sempre leva a decisões precisas.
Alguns dos viéses mais comuns que afetam os líderes são:
Viés de confirmação – Ao buscar informações que reforçam nossas crenças e ignoramos as que contradizem.
Viés da ancoragem – A primeira informação recebida pesa mais do que deveria.
Excesso de otimismo – A crença de que “dessa vez será diferente” leva a subestimar riscos e superestimar capacidades.
Viés da disponibilidade – Ao dar mais importância a eventos recentes ou impactantes, ignorando o quadro completo.
2. Pressões organizacionais: Quando a cultura cega o líder
Mesmo que um líder tente manter uma visão objetiva, o próprio ambiente organizacional pode dificultar essa clareza.
Algumas forças comuns que distorcem a realidade incluem:
Ruído político – Agendas ocultas, interesses individuais, prioridades conflitantes e disputas internas filtram o que chega para o líder.
Cultura de “aparências” – Em organizações que valorizam apenas “boas notícias”, os problemas reais são colocados “debaixo do tapete” até virarem crises.
Hierarquias rígidas – Quanto mais distante da operação, maior o risco do líder receber informações filtradas ou distorcidas.
3. O Ruído do dia a dia: Quando o urgente ofusca o importante
Líderes vivem imersos em um turbilhão de demandas, reuniões e decisões rápidas. Isso torna difícil parar para observar a realidade objetivamente.
As principais causas disso são:
Sobrecarga de informação – Excesso de dados, relatórios e dashboards criam uma falsa sensação de clareza.
Falta de tempo para reflexão – Sem espaço para pensar estrategicamente, líderes ficam presos ao imediato.
Desconexão com a base – Quanto mais alto o líder sobe, mais difícil se torna enxergar o que realmente acontece na “ponta”.
Mas o que acontece quando líderes falham em diagnosticar a realidade?
Essas barreiras já impactaram sua liderança? Qual delas você percebe com mais frequência no seu dia a dia? Compartilhe nos comentários sua experiência—eu leio todas as respostas!
As consequências de um diagnóstico mal feito
Quando um líder não enxerga a realidade como ela realmente é, as decisões são baseadas em ilusões e não em fatos. Isso gera uma cadeia de erros que afeta toda a organização.
Aqui estão algumas das principais consequências dessa falha:
1. Estratégias mal formuladas e metas irreais
Se o ponto de partida está errado, qualquer estratégia construída sobre ele será ineficaz. Líderes que não entendem sua realidade definem objetivos inalcançáveis, criam planos desalinhados e, pior, insistem neles mesmo quando os sinais de fracasso já são evidentes.
Exemplo: A Editora Abril não acompanhou a transição digital e manteve sua estratégia focada em publicações impressas, ignorando a queda na demanda. Em 2018, entrou em recuperação judicial, descontinuou várias revistas e passou por uma grande reestruturação.
2. Tomada de decisão reativa e incêndios contínuos
Sem um diagnóstico preciso, o líder não antecipa problemas—ele apenas reage a eles. Isso cria um ciclo de decisões emergenciais, onde sempre há algo urgente para resolver, mas nunca tempo para o que realmente importa.
Exemplo: Um gerente percebe uma queda nas vendas, mas atribui o problema à concorrência, sem investigar profundamente. Meses depois, fica claro que o real motivo era uma experiência ruim do cliente, que poderia ter sido revertida rapidamente. Agora, já perdeu aquele cliente.
3. Recursos desperdiçados em iniciativas de baixo potencial
Quando a realidade não é bem diagnosticada, as prioridades se tornam distorcidas. Projetos de baixo potencial são financiados e talentos são alocados em áreas de pouco impacto, enquanto problemas críticos são ignorados.
Exemplo: Organizações sem mobilidade de talentos entre áreas podem segurar talentos que teriam condições de contribuir mais em outra área por rigidez no processo orçamentário.
4. O líder perde credibilidade e confiança
Quando as decisões repetidamente falham, as pessoas começam a questionar a capacidade do líder. Equipes perdem a motivação, stakeholders se tornam céticos e a organização entra em um estado de desconfiança e resistência a mudanças.
Exemplo: Um diretor insiste em um projeto porque acredita que é a solução certa, mesmo com novos dados mostrando a demanda não é tão boa quanto se imaginava. Quando o projeto fracassa, a equipe se sente ignorada e passa a evitar compartilhar o que está pensando.
5. Desalinhamento da equipe e falta de engajamento
Quando o líder não entende o verdadeiro momento da organização, as equipes ficam perdidas, sem clareza sobre suas prioridades. Isso gera frustração, falta de direcionamento e, muitas vezes, um sentimento de “trabalho em vão”.
Exemplo: Uma diretora acredita que a cultura da empresa é forte porque os gerentes o dizem, mas não dedica tempo para conversar diretamente com os colaboradores da linha de frente.
Diagnóstico errado = Efeito dominó de problemas
Um líder que não enxerga a realidade claramente não só toma decisões ruins - ele coloca toda a equipe e a organização em risco:
Estratégias falham;
o engajamento da equipe cai;
oportunidades são desperdiçadas;
liderança perde eficácia.
E isso é mais comum do que parece. Em minha experiência, existe um forte ímpeto por parte dos líderes para agirem rapidamente como se isso fosse sempre uma qualidade.
No seu dia a dia, você está enxergando a realidade como ela realmente é? Ou está sendo influenciado por ruídos e suposições?
No artigo da próximo semana, exploraremos estratégias práticas que líderes podem usar para diagnosticar a realidade com clareza.