#004. O preço invisível das decisões não tomadas – e como evitá-lo
Descubra como a hesitação pode custar caro à sua liderança – e o que fazer para decidir com confiança
Nos meus primeiros anos de liderança, confundi cautela com hesitação – até aprender que toda decisão não tomada cobra juros – e eles são altos.
Nas planícies da hesitação, branqueiam os ossos de incontáveis milhões que, no amanhecer da vitória, sentaram-se para esperar e, esperando, morreram. - George W. Cecil, pseudônimo de William A. Lawrence
Anos atrás, eu liderava um colaborador que entregava ótimos resultados quantitativos, acima da média, mas criava ruídos constantes na equipe. Ele ignorava alinhamentos e diretrizes, prejudicando a harmonia do time.
Eu hesitei - por meses.
Parecia injusto abrir mão de alguém tão produtivo, então adiei a decisão de demiti-lo, esperando que a situação melhorasse após feedbacks claramente ignorados.
Enquanto eu hesitava, o impacto crescia. A equipe perdeu engajamento, o ambiente se tornou tenso, e minha própria energia foi drenada pela indecisão.
Aprendi da pior forma que adiar o inevitável não alivia o peso – só o torna maior.
Os anos me mostraram que esse tipo de experiência não seria isolada.
Líderes frequentemente enfrentam situações complexas em que decisões são necessárias, mas a indecisão surge:
Definir o orçamento do próximo ciclo entre prioridades conflitantes.
Reestruturar funções ou equipes para melhorar eficiência.
Decidir o momento certo para expandir a equipe ou congelar contratações.
Contratar para preencher uma vaga crítica, temendo tomar uma decisão errada na escolha.
Confrontar diretamente um colega ou superior sobre decisões que impactam negativamente a equipe.
Cancelar ou interromper um projeto que já consumiu muito tempo e recursos, mas não apresenta resultados claros.
A consequência é sempre a mesma: quanto mais adiamos, mais pesado o impacto. Equipes se desmotivam, problemas se acumulam, e a energia do líder se esgota. E o pior? A incerteza se espalha pela equipe, comprometendo o ambiente e os resultados.
A hesitação pode parecer uma proteção contra o erro, mas, na prática, é a decisão mais arriscada de todas – um preço que cresce com o tempo.
Mas por que, então, líderes hesitam, mesmo sabendo disso?

Por que líderes hesitam?
Liderar implica tomar decisões – algumas fáceis, outras incrivelmente desafiadoras.
Então, por que a hesitação é tão comum, mesmo entre líderes experientes?
Existem diversas razões e cada uma delas reflete uma mistura de fatores emocionais, culturais e organizacionais. Vamos explorar algumas das mais recorrentes:
1. Medo de errar
Decisões carregam consequências, e o receio de tomar uma decisão errada pode ser paralisante. Muitos líderes temem que um erro comprometa sua credibilidade na organização. Esse medo é amplificado em ambientes onde o erro é punido severamente, em vez de ser tratado como uma oportunidade de aprendizado.
2. Sobrecarga de opções
O excesso de informações e alternativas pode levar à chamada "paralisia por análise". Diante de tantas variáveis, o líder pode sentir que precisa de mais dados antes de decidir, adiando indefinidamente a ação.
3. Falta de clareza sobre prioridades
Quando não há alinhamento claro sobre os objetivos e diretrizes organizacionais, até as decisões mais simples podem parecer complexas. Sem uma visão estratégica para guiar suas escolhas, o líder tende a acabar procrastinando.
4. A crença de que o tempo resolverá o problema
É comum acreditar que, ao esperar mais um pouco, as coisas se resolverão sozinhas ou se tornarão mais evidentes. Infelizmente, o que geralmente acontece é o oposto: a indecisão torna o problema maior e mais difícil de resolver.
5. Pressão por perfeição
Muitos líderes sentem que precisam tomar a decisão "perfeita" – aquela não terá consequências negativas. Essa busca pela perfeição é ilusória e acaba retardando ações necessárias.
6. Medo de desagradar
Em organizações onde as relações interpessoais são complexas, líderes hesitam por temer desagradar colegas, superiores ou até a própria equipe. A dificuldade em lidar com conflitos alimenta a procrastinação.
7. Decisões fora de sua zona de domínio
Esse tipo de hesitação é situacional e ocorre quando o líder é confrontado com áreas fora de sua experiência ou conhecimento. O desconforto surge por falta de familiaridade com o tema.
Liderança Intencional: Estratégias práticas para evitar a hesitação
Reconhecer os padrões e causas da hesitação é o primeiro passo para vencê-la. No entanto, melhoramos nossa efetividade quando adotamos estratégias práticas que nos permitem agir com confiança, mesmo diante das decisões mais complexas.
Quero compartilhar com você 5 estratégias práticas que ajudarão você a superar a indecisão e liderar com mais clareza e intencionalidade:
1. Estabeleça prazos claros para decisões
Não espere condições ou informações perfeitas. Ao definir prazos claros, você elimina a possibilidade de procrastinação e força a ação dentro de um período definido. Esperar por 100% dos dados quase sempre significa perder o timing.
2. Classifique decisões como reversíveis ou irreversíveis
Nem todas as decisões têm o mesmo peso. Decisões reversíveis – aquelas que podem ser corrigidas – podem ser tomadas rapidamente, enquanto as irreversíveis exigem mais reflexão. Identifique a natureza de cada decisão e invista energia proporcional à sua importância.
3. Priorize ação sobre perfeição
Como vimos, buscar a decisão perfeita pode levar à paralisia. Uma escolha imperfeita, ajustada ao longo do caminho, frequentemente gera melhores resultados do que a ausência de decisão. A ação cria movimento e aprendizado, a hesitação mantém você preso no mesmo lugar.
4. Delegue decisões sempre que possível
Nem todas as decisões precisam passar por você. Crie premissas e diretrizes e delegue escolhas operacionais. Elas empoderam sua equipe, desenvolvem autonomia e liberam seu tempo para questões estratégicas.
Lembre-se: o verdadeiro papel de um líder não é resolver problemas - se você não concorda não deixe de ler Por que sua habilidade de resolver problemas pode estar sabotando sua liderança – e como reverter isso.
5. Cultive uma cultura de aprendizado
Permita que erros sejam oportunidades de crescimento. Uma cultura que acolhe o aprendizado contínuo reduz o medo de errar e incentiva decisões mais ágeis e inovadoras. Mostre que falhas fazem parte do progresso e celebre os aprendizados que vêm com elas.
Coloque em prática hoje
Superar a indecisão começa com pequenas mudanças. Qual das estratégias acima você pode aplicar imediatamente? Escolha uma decisão que você tem adiado e use essas estratégias para enfrentá-la agora.